domingo, 15 de setembro de 2013

Ana

As ruas retratam a coesão que tão sofregamente buscam as pessoas, o barulho às 7:00 da manhã ecoam em uníssono, as mesmas caras, os mesmos gestos, e Ana pensa que a angústia que sente está atrelada a repetição de tudo o que está aí, fazer todos os dias o seu café, tomar o ônibus daquele mesmo horário, no trabalho os mesmos diálogos, os sorrisos amarelos dando passagem a outros sorrisos não menos amarelos. Ana decidiu que aquele dia seria diferente, não sabia bem como e o porquê, mas cansada da mediocridade que embalava os seus passos cotidianos, pensou que poderia romper com essa camuflagem a que se sentia tão inconfortavelmente ajustada, tudo tão previsível, entrar no trabalho às 8:00, dor de cabeça às 08:30, as conversas de sempre com os colegas sobre programas de TV, novelas...Não, Ana decididamente não estava a fim. Saindo do trabalho, buscando aquietar sua mente que passou todo o dia em conflito resolveu tomar outro caminho em direção a sua casa, eram diferente as pessoas, as ruas, o mendigo não era o mesmo, e o bêbado quis sua companhia, ela ainda hesitou, mas sentiu-se acolhida naquele boteco que fedia a sarjeta dos que ali estavam, pediu uma pinga, virou de uma só vez, contraiu a musculatura do rosto de tal forma que provocou o riso dos companheiros que aguardavam vê-la, o que diria Ana? A cachaça desceu queimando, Ana pediu outra e os amigos aplaudiram e puseram-se a cantar uma música que há muito Ana não ouvia...

sábado, 14 de setembro de 2013

Carlos sempre foi um homem exemplar, cumpridor dos deveres, submisso às regras, bom filho, seguiu todas as etapas em tempo hábil, estudou, foi à faculdade, tornou-se médico, como o pai, o avô e acredito que também o bisavô. Mas havia um detalhe importante: Carlos não era feliz, nunca o fora na verdade, sua vida sempre atrelada às obrigações nunca deixara muito espaço para que pensasse nessas coisas. Mas um dia Carlos pensou e como a tristeza sempre fora sua companheira casou-se com ela, casou-se e tornou-se feliz, não sei se para sempre, “por que o pra sempre, sempre acaba”.