domingo, 15 de setembro de 2013

Ana

As ruas retratam a coesão que tão sofregamente buscam as pessoas, o barulho às 7:00 da manhã ecoam em uníssono, as mesmas caras, os mesmos gestos, e Ana pensa que a angústia que sente está atrelada a repetição de tudo o que está aí, fazer todos os dias o seu café, tomar o ônibus daquele mesmo horário, no trabalho os mesmos diálogos, os sorrisos amarelos dando passagem a outros sorrisos não menos amarelos. Ana decidiu que aquele dia seria diferente, não sabia bem como e o porquê, mas cansada da mediocridade que embalava os seus passos cotidianos, pensou que poderia romper com essa camuflagem a que se sentia tão inconfortavelmente ajustada, tudo tão previsível, entrar no trabalho às 8:00, dor de cabeça às 08:30, as conversas de sempre com os colegas sobre programas de TV, novelas...Não, Ana decididamente não estava a fim. Saindo do trabalho, buscando aquietar sua mente que passou todo o dia em conflito resolveu tomar outro caminho em direção a sua casa, eram diferente as pessoas, as ruas, o mendigo não era o mesmo, e o bêbado quis sua companhia, ela ainda hesitou, mas sentiu-se acolhida naquele boteco que fedia a sarjeta dos que ali estavam, pediu uma pinga, virou de uma só vez, contraiu a musculatura do rosto de tal forma que provocou o riso dos companheiros que aguardavam vê-la, o que diria Ana? A cachaça desceu queimando, Ana pediu outra e os amigos aplaudiram e puseram-se a cantar uma música que há muito Ana não ouvia...

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