terça-feira, 22 de novembro de 2011

Caridade?

Eram duas horas da tarde quando corri para o ponto ainda na esperança de tomar o ônibus daquele horário. Mas foi tentativa em vão, ele passara exatamente no tempo previsto, eu, no entanto, me atrasei um minuto, o suficiente para não alcançá-lo. Talvez não tivesse mesmo que tomá-lo, pensei nisso depois de presenciar uma cena que me faria questionar e refletir sobre a caridade e toda a sua conjuntura, isso aconteceu depois que um rapaz, de aproximadamente trinta anos, dirigiu-se a mim com um discurso que parecia esmaecido provavelmente por ter sido recorrentemente utilizado, lançava-o em busca de alguns trocados para alimentar-se, era o que dizia o rapaz que afirmava ser portador do vírus HIV, pensei alguns segundos antes de responder ou mesmo dá o Real que ele acabava exigindo, foi o que consegui entrever em seu discurso que o colocava em condição desfavorável e me enquadrava numa situação de responsabilidade sobre ele.
Pensei muito antes de dizer-lhe sim ou não, se eu lhe desse o Real que ele havia me pedido pouco representaria em meu orçamento, para ele, no entanto, corroborava, incentivava-o a solidificar sua situação de mendicância, eu seria conivente com a sua posição de vítima, isso porque eu estaria encorajando-o a pedir outras vezes a mim e a todos os transeuntes que ele encontrasse. Pensei nisso olhando em seu olhar, no que ele estaria pensando? Porque se dirigiu a mim se havia tantas outras pessoas ao meu lado em minha frente atrás de mim?
O ônibus chegou e ainda hesitei claudicante em minha decisão, o ônibus sairia dali a cinco minutos e durante esse tempo passei todo ele observando o rapaz que abordava outras pessoas, utilizando o mesmo texto, buscando trocados pela sua história. Sai de lá convencida de que a minha decisão fora a mais acertada, eu não o ajudaria dando qualquer quantia que fosse, ao contrário eu estaria colaborando para a sua possível resignação ou mesmo comodismo com a sua situação, seu inconformismo que o impede de tornar-se cidadão ativo na sociedade em que vive.
Passado um tempo encontrei novamente o rapaz, mas ao contrário do que pensei sobre sua incapacidade de transformar a sua realidade o que observei foi mesmo a vítima de um sistema opressor que impõe e exclui o rapaz e tantos outros portadores ou não do HIV nunca foram a escola, não tem ou tiveram acesso a informação ou se tiveram pela própria incapacidade de compreensão tiveram-na deturpada. Mas esse rapaz vota, milhares deles votam e embora excluídos, marginalizados, serão intimados a votar, a elegerem uma pessoa na qual ele nunca viu, não conhece e nem sabe da existência do plano de governo, mas que provavelmente a encontrará com aquele Real no ponto de ônibus.

Um comentário:

  1. Da próxima vez que ficar muito incomodada, faça uma prece silenciosa em direção ao pedinte.
    Isso é CARIDADE...
    Saudade!

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